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Só com luta de negros foi possível abolir escravidão

Veja como o 13 de maio e princesa Isabel perderam espaço com 'redescoberta' da luta negra por abolição

"Aplicação do Castigo do Açoite", do francês Jean-Baptiste Debret. Foto: Reprodução

Os antigos livros escolares não poupavam adjetivos para enaltecer a princesa Isabel (1846-1921), que herdaria o trono brasileiro caso a República não houvesse sido proclamada em 1889. Enfatizando o episódio da Lei Áurea, sancionada por ela em 13 de maio de 1888, abolindo a escravidão em todo o território nacional, a monarca era definida como heroína, salvadora, redentora, libertadora. E a data do 13 de maio entendida como um marco, sobretudo para a população negra brasileira.


Mas o tempo passou e a própria historiografia passou a ser atualizada. Porque não faz muito sentido que o protagonismo da luta negra seja de uma mulher branca, reforçou-se no imaginário nacional outra data: o 20 de novembro, dia em que teria sido assassinado o último líder do quilombo dos Palmares, Zumbi (1655-1695), hoje reconhecido como um símbolo da resistência negra.


“De que adianta romper as algemas de quem nasce acorrentado pela cor da pele? O fim da escravidão no 13 de maio foi uma luta de vários setores, mas especialmente foi uma redenção aos que nunca foram considerados gente. Aos oprimidos que ainda caminham pelos becos escuros com medo dos brancos. Foi a falta de bom senso de um país desestruturado que continua a matar os que não tem espaço”, destaca o professor, historiador e psicanalista Daniel Frances.


Ao longo da história, aponta que a Lei Áurea foi uma concessão e não coloca o negro como protagonista na luta contra a escravidão. A Lei também libertou apenas 5% da população de escravizados, os demais conquistaram a liberdade por meios próprios, com fugas, formação de quilombos, organização de irmandades para compra de alforria, entre outros.


Daniel Frances, aponta que a desigualdade racial ainda é gritante em nosso país, “Como cantou Elza Soares: 'A carne mais barata do mercado é a carne negra. Que vai de graça pro presídio, e para debaixo do plástico, e vai de graça pro subemprego. E para os hospitais psiquiátricos'". Após citação, professor Daniel reforça, "Se somos a terra da diversidade, somos a terra da exclusão, a terra da degradação. Para quem é negro no Brasil a senzala continua agindo, a chibata que ainda corta a pele. A casa Grande ainda domina na hipocrisia e o 13 de maio fica sem valor a cada ano. Nossa Senhora de Fátima que nos perdoe elos crimes diários contra os negros”, finaliza o professor.

Professor, historiador e psicanalista comenta com o CA sobre a imposição do "13 de maio" ao longo da história brasileira. Foto: Arquivo Pessoal


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