Dos mesmos criadores de 'Dark', '1899' se aprofunda nos mistérios em troca de personagens mais rasos
Não há como falar de ‘1899’ sem falar de ‘Dark’, série que levou seus criadores à fama, e se tornou uma das séries em língua não-inglesa mais assistidas da Netflix, que então permitiu a produção de ‘1899’. Dark seduziu o público ao redor do mundo com uma intrincada trama de viagens no tempo, parentescos complicados e camadas sob camadas de mistérios. Um elemento subestimado, porém, foi essencial para seu sucesso: a fundação sólida de seus personagens.
Tal elemento é por vezes escanteado em 1899, em favor das grandes ambições da história, que agora se passa em um grande navio, o Kerberos, que leva mais de mil passageiros, de diversas nacionalidades, rumo às promessas de uma vida melhor na América. Conforme o capitão Eyk (Andreas Pietschmann, o Jonas adulto de Dark) e sua equipe mudam de rota para atender ao chamado do Prometheus, um navio há meses desaparecido, mistérios começam a se acumular, e as tensões se acirram na embarcação, deixando pouco espaço para a construção de seus personagens.
Os criadores aos poucos nos apresentam aos passados de algumas de suas figuras centrais, como a médica Maura (Emily Beecham), a jovem Ling Yi (Isabella Wei), o francês Lucien (Jonas Bloquet), e uma família ultra-religiosa. Porém, não é o suficiente, para sair da superfície: o que vemos é que, em comum, todas essas pessoas têm vidas recheadas de trauma e luto, mas nada mais do que isso.
O Mistério
A boa notícia é que o mistério da série é envolvente e instigante o bastante para manter o espectador interessado até o final da temporada. Pistas e símbolos são distribuídos habilmente ao longo dos oito episódios, preparando o terreno para revelações e reviravoltas recompensadoras, mas que colocam ainda mais dúvidas na cabeça de quem está assistindo. É uma estrutura viciante, que os criadores de ‘1899’ parecem ter aperfeiçoado com a experiência de ‘Dark’.
A nova empreitada também se destaca com os visuais impressionantes, fruto de um bem-vindo aumento de orçamento após o sucesso de ‘Dark’. Os cenários de ‘1899’ são ricos e bem elaborados, e a equipe da produção consegue usar os efeitos visuais a seu favor, especialmente nas complicadas sequências em mar aberto.
Ao fim da primeira temporada de ‘1899’, a vontade de ver o que mais Odar e Friese guardam para o futuro é inegável; as pontas deixadas pela série, porém, apontam para a necessidade, agora inadiável, de revisitar com profundidade os personagens que ficaram pelo caminho. Conciliar esse aspecto com os mistérios, de forma equilibrada, será vital.
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