Projeto artístico registra ruínas de antiga oficina ferroviária
- culturacaopg
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Um grupo de artistas está percorrendo diferentes pontos de Ponta Grossa com lápis e cadernos em mãos para eternizar paisagens urbanas, construções históricas e belezas naturais. A ação faz parte do projeto “Desenhadores de Rua”, que busca preservar, por meio do olhar artístico, locais que compõem a identidade da cidade. A iniciativa, coordenada pela artista visual e professora Rute Yumi, conta com apoio da Copel, via Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice), da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, com produção da Inspire Projetos Criativos e Estratégia Projetos Criativos.
No último domingo, 18 de maio, os participantes se reuniram para desenhar as ruínas dos antigos barracões da oficina da RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima), localizados no bairro Oficinas. O prédio, que um dia foi essencial para a manutenção de trens e vagões, foi desativado na década de 1990. Hoje, apesar de sua importância histórica, a estrutura não é tombada como patrimônio cultural e pertence à empresa Rumo Logística.

A ideia de desenhar o local surgiu a partir de uma reflexão coletiva dentro do próprio grupo sobre lugares significativos que, mesmo carregados de memória, não têm proteção legal:“A questão de irmos desenhar a oficina em ruínas surgiu a partir de uma fala coletiva a respeito de patrimônio, sobre locais significativos para os moradores, mas que não são protegidos pelo tombamento como patrimônio material”, explica Rute Yumi.“Quando olhamos tudo aquilo, todos os detalhes, fico pensando nas pessoas que construíram, que fizeram a manutenção. É um retrato da passagem do tempo. Sobre o registro, espero que fique bem marcado que estivemos lá, do nosso olhar de hoje. Para mim ficou um sentimento de perda, de algo que está se esvaindo”, conclui.
Além de registrar artisticamente o espaço, os participantes relataram uma experiência emocional e reflexiva. A ilustradora Franciele Braga Machado destaca o poder do desenho como ferramenta de memória:“O legal de desenhar um espaço histórico é deixar registrado um cenário que já contou muitas histórias. É como se aquela imagem pudesse permitir reviver memórias”, diz.
Já Martins Alves, outro integrante do projeto, conta que nunca havia parado para observar com atenção aquele espaço, mesmo passando por ali com frequência: “Eu passo na frente da antiga oficina direto, mas nunca havia parado para olhar e refletir sobre, às vezes até esquecia que tinha uma oficina ali. Eu acredito que esses desenhos e essa movimentação são importantes também para a valorização desse espaço que foi tão relevante para a cidade e para tantas famílias. Veio o sentimento de melancolia, de abandono, mas achei bacana a oportunidade”, relatou.
O grupo é formado por 20 desenhadores selecionados em março entre 127 candidatos. Eles passaram por uma etapa de formação com aulas práticas e teóricas sobre desenho de observação e patrimônio cultural. As atividades são divididas em dois grupos — um que atua nas tardes de sábado e outro nas manhãs de domingo.
Além da antiga oficina da RFFSA, já foram registrados locais como a Catedral Sant’Ana, o Mosteiro da Ressurreição, o Cemitério São José, a Praça do Pôr-do-Sol, o Memorial Ponto Azul e o Parque Vila Velha. Até o fim de junho, outros doze pontos ainda serão visitados. Todos os registros serão reunidos em uma exposição coletiva, ainda sem data confirmada, e também podem ser acompanhados pelas redes sociais no perfil @desenhadoresderuapg.
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