Grupo de Teatro de Ponta Grossa estreia novo elenco com leitura dramática de “O Beijo no Asfalto”
- culturacaopg
- 1 de ago.
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Na última quarta-feira (30), o Grupo de Teatro de Ponta Grossa (GTPG) marcou o início de um novo ciclo ao apresentar sua primeira montagem com elenco e direção renovados. A peça escolhida para essa estreia foi a leitura dramática de “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, apresentada na Estação Hub diante de um público que lotou o espaço. A escolha da obra, segundo o diretor Carlos Alexandre de Andrade, teve uma justificativa inusitada: “a menos polêmica do Nelson Rodrigues”.
Escrita em 1960, a trama gira em torno de Arandir, que presencia um atropelamento e, atendendo ao último pedido da vítima, beija-a na boca pouco antes da morte. A cena é presenciada por Amado, um repórter sensacionalista que transforma o ato em manchete, levantando suspeitas sobre a relação entre os dois homens e provocando reações de desconfiança na esposa de Arandir, Selminha, e acusações por parte do sogro, Aprígio.
Para o diretor Carlos Alexandre, a atualidade do enredo foi um dos principais fatores que influenciaram o modo como a leitura foi dirigida:“Não só também por ser polêmico, mas por falar de amor. Nós queríamos muito que essa situação do amor e o amor também em suas vertentes, que nem sempre é bom, nem sempre é mau. É, nessas questões que a gente se envolveu para a escolha do Nelson Rodrigues com o Beijo no Asfalto.”
Ao ser questionado sobre os elementos que mais buscou ressaltar na encenação, Carlos destacou a força dos intérpretes:“Eu acho que principalmente a intensidade dos atores, porque o Nelson escreve muito para o ator. Ele não, não escreve como muitos dramaturgos, que é quase uma literatura lida, não, ele escreve para a boca do ator, é muito vivo. Então, a potencialização das encenações foi assim, foi o foco que eu tive como diretor para colocá-los em cena, assim, tirar o extrair a intensidade de cada um.”
Sobre a decisão de apresentar a obra no formato de leitura dramática, ele explicou: “É uma coisa que ficou meio démodé já, mas eu creio que a situação ela se inverte com o passar do tempo porque a base do ator, ela é a leitura, ela é a leitura dramática e principalmente a dramaturgia. Então foi uma homenagem aos dramaturgos, muito mais do que a gente tá falando de teatro apenas, mas sim da dramaturgia, porque a dramaturgia é que é a base, é o chão do ator para que ele possa, é, vir com as suas interpretações e com a sua intensidade de fazer acontecer. Então, foi uma homenagem à dramaturgia brasileira. Esse foi o grande foco. E mostrar que uma leitura dramática pode não ser chata, como as pessoas imaginam, que você tem elementos para se trabalhar e que você vê ali o processo do ator em sua criação, juntamente com o diretor, as coisas acontecendo.”
Já o ator Leonardo Lopes, responsável por interpretar Amado Ribeiro — o jornalista inescrupuloso que desencadeia o conflito — também comentou sobre a pertinência do texto: “Eu acho que essa peça é extremamente atual, sabe? Naquele naquele contexto em que gente tava conversando até aqui no bate-papo final da peça sobre cancelamento… O cancelamento é muito presente hoje e isso afeta num nível que tem pessoas que cometem coisas horríveis conta de serem canceladas, né? E o próprio preconceito, a homofobia...
Essa peça é dos anos 60 e parece que é de 2000, é muito atual, parece que é 2025 isso, né? Parece que não mudou nada, isso indigna muito. Então ela é muito essencial.”
Sobre os desafios de encarnar o papel, Leonardo contou: “Tirando essa dificuldade da leitura em si, eu acho que depois vem o sentir o que esse personagem que não tem escrúpulos, esse personagem nojento, sente e começar a gostar disso, porque isso é uma coisa muito ruim, né? Porque pra ser um pouco verdadeiro, ao menos você tem que gostar do que ele gosta.”
Com o sucesso da primeira apresentação, o grupo já tem nova data marcada: o espetáculo volta ao palco no dia 07 de agosto, às 19h, novamente na Estação Hub. A entrada é gratuita e será feita por ordem de chegada.
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