Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Quem rouba os nossos sonhos?"
Era um dia ensolarado, dia comum e rotineiro para todos, menos para mim, pois depois deste dia nunca mais fui a mesma pessoa. Como bem sabemos em nossa cidade, mas não apenas por aqui, encontramos muitos andarilhos, pessoas que por diversas circunstâncias fazem das ruas lares e perambulam por aí. Neste dia em questão encontrei esta personalidade insólita, Dani, pelo menos é assim como a conhecemos aqui na região de Oficinas.
Todos os dias, sentada ao lado do supermercado Tozetto, ela acompanhava a rotina dos passantes que transitavam por ali, cumprimentando as pessoas alegremente. Dani já me conhecia, mesmo que pouco, pois eu usualmente fazia aquele percurso e neste dia cumprimentando-a como de costume me detive mais um pouco quando ela lançou certas palavras objetivando prolongar o diálogo.
Atrasei os passos, voltando alguns, e parei em sua frente para ouví-la. Confesso que fui pega de surpresa já que nunca havia conversado com ela, além dos cumprimentos de sempre. Entre os diversos assuntos abordados algumas palavras em especial me chamaram atenção, incitando em mim tamanha reflexão, mal sabia ela.
─ Pois é, menina! A vida da gente às vezes vira de ponta cabeça, sabe? A gente pensa uma coisa, planeja, mas aí parece que vem uma coisa, sabe? Tipo um furacão e leva tudo embora. Parece que a gente não pode sonhar! É! A gente não pode sonhar! ─ disse ela.
Pela primeira vez não soube o que dizer. Vi-me a reclamar diante de diversas situações da vida e de repente meus “problemas” não eram nada. Lembrei-me das vezes mencionadas por ela em relação ao tratamento que recebia das pessoas, os olhares e caminhos desviados. Nos detivemos por algum tempo neste diálogo que terminou com motivações e sorrisos. Segui meu caminho com suas palavras ecoando em minha mente. “A gente não pode sonhar!”. Assim como ela, tantas outras pessoas, em condições iguais ou não, devem se fazer este mesmo questionamento. Se nós não podemos sonhar então me pergunto ─ Quem rouba nossos sonhos?
Texto de autoria de Francielly da Rosa, professora da rede municipal de Ponta Grossa e estudante de Letras na UEPG, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
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