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Neuroeducação permite ensino para além da transferência de conteúdo

Neurociência atrelada ao ensino escolar melhora aprendizagem dos alunos

Neuroeducação permite ensino para além da transferência de conteúdo. Foto: Divulgação

Os tempos são outros e aquele ensino “quadrado”, com alunos enfileirados aprendendo de forma passiva o conteúdo, já tem sido substituído por técnicas de aprendizagem que buscam primeiro entender o funcionamento do cérebro para depois pensar a melhor forma de passar o conteúdo. Nesse cenário se encaixa a neuroeducação, que mescla neurociência, psicologia, ciência cognitiva e educação. Muitos saberes em prol de um ensino mais efetivo.


“O neuroeducador – professor com formação em neuroeducação – vai conseguir compreender a relação de determinadas áreas do cérebro humano com o processo de aprendizagem. Ele deixa de ver o aluno apenas como sujeito que memoriza, e passa a percebê-lo como um indivíduo epistêmico. Ou seja, que aprende. O neuroeducador passa a enxergar o aluno como alguém que reflete sobre o que aprende, que é a chamada metacognição”, resume Carina Sales, diretora da Ananda Escola e Centro de Estudos, que funciona há mais de duas décadas em Salvador, na Bahia.


A instituição é uma das pioneiras na formação de professores com a neuroeducação na Bahia. Na escola, há um projeto de capacitação semanal coordenado por Carina, que é neuroeducadora e especialista em Educação Infantil e em Ensino e Autoconhecimento, e se tornou um case para o Brasil. O trabalho para além do conteúdo curricular engloba o olhar diferenciado dos professores, o desenvolvimento da consciência coletiva, a humanização dos estudantes tem sido e tem replicado em outras escolas baianas.


Redesenhando a forma de educar, a neuroeducação traz efeitos positivos tanto para quem ensina quanto para quem aprende. Ao professor, em resumo, oferece ferramentas para entender como ajudar os alunos a fixar os conteúdos. Nos alunos, desperta o prazer em aprender. Com dois filhos matriculados há sete anos na Ananda – o Davi, de 10 anos, e o Miguel, de 9 –, Jamille da Guarda, 40, percebeu significativo avanço no desenvolvimento de um dos filhos que já tinha estudado em outra escola considerada de referência, mas que não atendia as necessidades dele quando ainda estava na educação infantil.


“Ele saiu de lá do grupo dois sem nem saber usar uma tesoura. A escola tinha uma estrutura maravilhosa, Davi adorava ficar no parquinho, que era incrível. Agora, a nível pedagógico, eu sentia que ele não tinha grande avanço. Quando ele mudou de escola no grupo três, vi a explosão do desenvolvimento dele. Davi é muito adiantado, então ele chegou lá na Ananda e perceberam logo isso e o incentivaram bastante. No grupo quatro, ele já está lendo”, compara a mãe que possui formação em pedagogia e é especializada em performance familiar e analista de percepção do comportamento infantil.


As diferentes formações na área ajudaram Jamille a se certificar que a educação oferecida aos pequenos estava sendo de um modo cuidadoso. Para ela, a formação dos professores da Ananda em neuroeducação permite ampliar o olhar para os estudantes para além do conteúdo escolar, incluindo também as questões emocionais. “Toda equipe é muito atenta e consegue ter um olhar individualizado para cada criança. Então, com essa minha formação em performance familiar, eu vejo completamente como isso é mais do que necessário. As crianças se sentem pertencentes e envolvidas no processo. Isso dá segurança para que elas possam se sentir à vontade em ser quem são”, avalia.


O trabalho com as virtudes e autoconhecimento das crianças também é um diferencial para que Jamille mantenha os filhos matriculados na escola, que fica em uma cidade próxima à sua e necessidade de um deslocamento maior. “As escolas focam muito em formar o aluno para ser o melhor profissional, sendo de nível acadêmico ou técnico. Mas, na hora do olhar para o emocional têm uma instabilidade muito grande. A meditação ajuda nesse sentido, poucas escolas têm esse tipo de trabalho com o aluno. Mesmo na pandemia, com as aulas on-line, a escola mantive a meditação. A prática acalma e ajuda os alunos a relaxar e concentrar”, conclui.


Terreno mais fértil para o aprendizado Precursora e pesquisadora da neuroeducação no Brasil, a educadora e escritora Susan Leibig é uma das mentoras da diretora Carina. Através dos ensinamentos apreendidos com Leibig, ela pode transformar o ensino da Ananda Escola. Para Susan, os neuroeducadores conseguem tornar o terreno mais fértil para o aprendizado.


“Quando atuamos com as ferramentas de intervenção da neuroeducação para fins de aprendizagem escolar, nós vamos preparar o estudante para que tenha a máxima possibilidade de aprender aquilo que antes tinha dificuldade. Nós chamamos isso de prontidão para a aprendizagem. Então, neuroeducadores aprontam pessoas para aprender e sabem identificar quais fatores estão limitando esse processo de aprendizagem”, explica a especialista fundadora do Susan Leibig Institute e autora de mais de 10 livros sobre a temática e organizadora de diversos cursos na área, como a primeira pós-graduação em Neuroeducação do país. Melhorias observadas Entre as melhorias observadas por Carina após todos os educadores da Ananda Escola terem noções de neuroeducação, foi entender as lacunas que interferiam na aprendizagem dos estudantes, além de identificar precocemente disfunções que comprometem o aprendizado, a exemplo de dislexia, discalculia e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Carina explica que isso também foi importante para otimizar o trabalho de outros profissionais – como psicólogos, pedagogos ou fonoaudiólogos – porque os estudantes já chegam com um pré-diagnóstico feito pelos professores.


“Na Ananda, priorizamos o trabalho em equipe porque nenhum profissional sozinho faz mágica. Além disso, o indivíduo não é uma coisa só. Ele é múltiplo, então precisa de muitos profissionais para compreender e dar um encaminhamento certo. E a neuroeducação, na verdade, nos esclareceu muito em relação ao mecanismo de aprendizagem”, complementa. A partir disso, a escola deixou de centrar somente no método, para dar protagonismo aos estudantes observando suas potencialidades e gerenciando as suas limitações. “Quando você neuroeduca você passa o conteúdo, a criança repete pra você o que ela entendeu, você compreende como ela está processando aquela informação e depois você tem o seu diagnóstico”, explica Carina.


Já Susan acrescenta que o uso das neurociências atreladas ao sistema de aprendizagem permite que os estudantes alcancem suas genialidades pessoais. “Ao dar vazão máxima ao uso inteligência, o que busca a neuroeducação é que o indivíduo atinja ou possa chegar à sua melhor expressão de inteligência que nós chamamos de genialidade pessoal”, conclui a especialista.


Fonte: Agência Educa Mais Brasil

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