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Um refúgio chamado biblioteca

Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Um refúgio chamado biblioteca"


O que antes era refúgio para seu criador, agora refugia todos que desejam escapar por alguns minutos de suas adversidades, adentrando em novos mundos, tempos, memórias.


Esse refúgio, chamado biblioteca, está localizado em um imóvel no interior de uma chácara a poucos quilômetros do centro de Ponta Grossa, cuja construção se deu por iniciativa do senhor Bernardo Miara, um antigo empresário da cidade.


Espaço em alvenaria, cercado pelo verde das árvores, que, ao longo de cada ano, recebem um salpicar colorido das flores e frutos da época. Um refúgio em meio a natureza que ele adorava contemplar e afirmar: “Esta chácara está tão linda, eu acho que não existe outra igual.”


O interior da biblioteca vai muito além do que o nome sugere. Mais que livros classificados e arquivos que comportam incontáveis registros que mais parecem uma enciclopédia descomunal, trata-se de um espaço mantido pela memória viva do seu criador.


Aparentemente era um hobby seu, de muitos anos. Chegar na chácara, adentrar a biblioteca, abrir a janela para apreciar e sentir a natureza ao redor, ligar o velho toca fitas, assentar-se na cadeira giratória, puxar as revistas e jornais que haviam chegado na semana, proceder com a seleção, leituras, recortes e conseguinte arquivos, porque mais tarde chegariam filhos, netos e agregados, que sentariam no “divã” e a concentração para a atividade fim, findava.


Lembro-me de recém-chegada na família, acompanhar meu namorado na época, até a biblioteca. Sentamos no sofá e ele, como um cumprimento altivo ao neto, falou “Davi! David de Michelangelo!” Então, levantou-se da cadeira, foi até um de seus arquivos, impecavelmente organizados por ordem alfabética e cronológica, retirou uma pasta com informações do grande artista renascentista e nos entregou recortes de sua grande obra.


Fiquei pasma, encantada por aquele movimento. Com uma vontade tremenda de abrir todos aqueles arquivos e explorar seus pormenores. Não o fiz, não me sentia no direito de tocar em nada daquilo, era uma sensação de estar invadindo algo tão particular.


Apenas sete anos após seu falecimento, senti-me convidada a explorar uma das pastas, escolhi a de tema “Alzheimer”, mas, ao tocá-la e tomar conhecimento do conteúdo e da forma com que ele os organizava, senti que o propósito de tudo aquilo ia muito além do hobby.


Era um legado, propósito de vida, motivo para reunir e fortalecer sua família, e sim, a biblioteca era mesmo seu refúgio, para encarar de forma mais leve e sábia as adversidades pelas quais passou.


Texto de autoria de Camila Pasetto Kiapuchinski, bacharel em Serviço Social, empresária na área de alimentos, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

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