Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Procurando Deus em Ponta Grossa"
Sempre gostou de igrejas. Silêncio, meditação, reconforto. Vocação de outras eras? Monge grego ou inquisidor espanhol?
Foi batizado e crismado na sólida e jesuítica igreja de São José. Na de Santa Terezinha, na Vila Estrela, recebeu a Primeira Comunhão. Entrou em quase todas da cidade: na do Rosário, na antiga Catedral, na “dos Polacos” e até na de São Sebastião, na Nova Rússia. Mas foi a modesta construção da São Judas Tadeu, em Olarias, a que mais marcou.
Sinos tocando na hora do Ângelus convidando à prece de Ave-Maria e às sublimes notas de Gounod. Muitas vezes o clima melancólico de final de tarde fez verter lágrimas nos olhos do menino-homem. Pobreza material, carência afetiva, os pais separados. E também da única irmãzinha.
Nunca faltou a fé. Inquieto, engoliu hóstia, marafa, docinho de Cosme e Damião e água fluidificada. Só não engoliu respostas prontas, quis iluminar as dúvidas. De joelhos, pediu ao padre perdão por pecados inexistentes. Aos caboclos e pretos-velhos, conselhos e proteção para encarar o futuro de sonhos e desafios. Deglutiu um pesado volume Rosacruz e obras esotéricas da gaveta do pai. Certa vez um culto protestante.
Sobrou o respeito e admiração pela beleza dos templos, de Aparecida a São Pedro e Notre Dame: a arte da arquitetura, os afrescos, os vitrais.
Ideias e experiências enriquecem o espírito, mas quando o ser encontra a si mesmo, não é necessário procurar mais. Basta abrir a porta do coração e deixar Deus entrar. Liberta-se dos formalismos, dispensa-se o supérfluo, fica a essência. O menino-homem cresceu, amadureceu e diferenciou religião, religiosidade e religiosismo.
Em que o homem-menino acredita hoje? Em um conjunto de princípios racionais que explicam a vida e suas aparentes incongruências. Descer da soberba. Descobrir que Deus está no canto e plumagem multicolorida dos pássaros, na graciosidade do voo da borboleta, na beleza e perfume das flores, na formiga preta e no urso-polar, no brilho das estrelas e na folha da grama, no nascer e pôr do sol, no tamborilar no telhado da chuva calma e na força da tempestade, no murmúrio do riacho e na impetuosidade da cachoeira, na suave correnteza do rio e nas ondas azuis do mar. E nos Campos Gerais prateados pelo luar.
Deus está no que vemos e no que não vemos. Mais que nas palavras e atos humanos, está no sentimento de bondade. Deus não só está, mas é. É o amor que move o universo. E o homem-menino descobriu que Deus está no olhar do desconhecido e, afinal, também, dentro de si mesmo.
Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica e jornalista aposentado, residente em Curitiba, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais
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