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  • Foto do escritorRedação

Conheça a história da construção do trabalho R.U.G.A.S

Atualizado: 1 de abr. de 2022

Com a participação de artistas mulheres de vários estilos musicais, rapper Stanley quer mostrar que se aprende na convivência

O debut R.U.G.A.S do rapper ponta-grossense Stanley, é resultado de todas as suas experiências e uma necessidade de externar tudo aquilo que o sufoca. Foto: Felipe Hoffman e o Rafael Hoffman

Quase não restam dúvidas que o pessoal do rap é um dos que mais produz em Ponta Grossa. Volta e meia, Gafanhoto, Zero Meia e Stanley (só pra citar alguns dos nomes mais conhecidos) produzem seus sons e lançam em todas as mídias. O requisitado músico, Nicolas Salazar, afirma que há tempos alerta aos músicos de outras vertentes da MPB, de que é preciso se agilizar nas produções e seguir os passos dos rappers. “A galera de outros sons tem muito o que aprender com eles, os caras são muito agilizados em produzir conteúdo, gravar, se juntar, se ajudar, e fazer festa pra divulgar o próprio trabalho”, afirma. “Pra mim, inspira bastante”.


Guile Santos, outro músico que não teve descanso durante a pandemia, tanto na produção, quanto nas apresentações em espaços diversificados, divide opinião com Nicolas. Eles participam como convidados de Stanley no álbum R.U.G.A.S (sigla para Rap, Underground, Gangsta, Alternativo, Style), lançado em 18 de março. “Os caras, não é de hoje, estão focados na produções, sempre lançando coisas novas, novos sons. O rap tá ganhando espaço e eles são merecedores disso, além de trazerem shows grandes pra cidade”, diz Guile.


A tônica desde disco é a participação das mulheres. Stanley convocou cantoras e produtoras de rap e até mesmo do sertanejo para participar desse trabalho. O álbum conta com oito músicas mais a introdução e o fechamento com poesias de Elisandra, esposa e uma das convidadas do artista. Nas poesias, ela fala sobre o rapper, seus perrengues, suas alegrias, engajamentos e parcerias, até se construir como artista da música. “Eu sou suspeita para falar. Sou fã apaixonada pelo trabalho dele. Convivo com ele direto, então foi fácil, e a gente sabe da luta que foi”, diz ela.

Elisandra Santos, esposa de Stanley também participa do trabalho do músico. Foto: Felipe Hoffman e o Rafael Hoffman

Sobre a participação das cantoras e produtoras no disco, Elisandra salienta que não tem palavras pra descrever. Ela afirma que é um espaço que as mulheres estão tentando conquistar a cada dia, há muito tempo. E, considera que são talentos que estão por aí e que mais pessoas deveriam seguir as atitudes de Stanley. “Tem muita mina boa e tendo apoio é da hora”, reforça.


Entre as rappers presentes no álbum estão, Tatiane Dantas, que é do universo sertanejo, na faixa Alma de Sk8, MUM na voz e beat de Isa Sabino (Su Madre Mandrake), em Passarinho, Erika Zs, em Arte Marginal, e Quiara Camargo, ativa na questão LGBTQI+, divide a autoria de Racismo Reverso com Stanley. Estes são alguns dos nomes que circulam pela produção de R.U.G.A.S. Logo em seguida à Intro, a primeira música, traz uma homenagem à filha Diana. “Filha não perca a magia, muito mais do que conselho, tente entender”, ensina a letra.


Stanley diz que o convite às mulheres foi a melhor forma de conviver e aprender com elas. Segundo ele, a troca diária de informações com o público feminino é uma maneira de reduzir o machismo. O artista considera que aprendeu muito com todas, não só na questão da arte, mas nas formação como ser humano, o que ele acredita ser o principal propósito.


Outros convidados

Além das mulheres, Stanley priorizou outros artistas e produtores da cidade e do Paraná, a exemplo dos citados Guile e Ncolas, também violonista Higor Qas, bastante conhecido do público ponta-grossense, por tocar nos semáforos, e Zero Meia, com quem já dividiu várias parcerias. Entre os estúdios locais estão o Piralinda e o Snake Groove. Sobrou espaço para artistas e produtores de outras regiões, como Gralak, de Curitiba, Galdino Beats, de São Paulo (SP), de Maringá e de Belo Horizonte (MG). De Londrina, o disco traz a participação do rapper Melk, morto aos 33 anos, em dezembro de 2021. O músico era um dos mais respeitados no meio e participou no R.U.G.A.S em Ileso e Sorridente. “Melk, tinha grande representatividade tanto cantando rap, quanto na minha vida particular, era um grande amigo”, diz Stanley.

Músico ponta-grossense Higor Qas, foi um dos convidados no trabalho de Stanley. Foto: Felipe Hoffman e o Rafael Hoffman

O rapper disse que pode até parecer loucura da cabeça dele, mas que desde antes de iniciar no rap tinha vontade de trabalhar com a maioria dos convidados. Ele conta que se criou ouvindo Novos Malandros, Guile e o Balta pelos bares da cidade e já se imaginava trabalhando com eles. Um dos músicos que Stanley incensa em suas falas é o artista Scilas, um dos mais respeitados da cidade, que hoje mora em Tibagi, sua terra natal. Segundo o rapper, Scilas já levava o pessoal do rap para cantar, tocar e fazer rimas juntos. “Eu falo pra ele, que ele me ensinou a ser rapper, por ser pretão e representar a galera de uma forma tão foda. Scilas sempre foi referência pra mim e a maioria dessa galera”, destaca.


De BH, vieram FBC, rapper de renome nacional, que recentemente fez show em Ponta Grossa, e Isa Sabino, ativa nos movimentos das mulheres negras e LGBTQI+. Sobre FBC, Stanley conta que ele está estourando em todas as plataformas de streaming, principalmente com seu novo álbum Baile, que traz uma pegada funk dos anos 90. Para o músico, “o R.U.G.A.S tem música para todo mundo; é um diálogo com todo mundo, com todos os universos”.

FBC e Zero Meia também tiveram participações especiais no R.U.G.A.S. Foto: Felipe Hoffman e o Rafael Hoffman

Balta fez pandeiro e flauta em “Sambo”. Ele conta que sempre admirou o pessoal do rap e já gravou com Gafanhoto e Zero Meia. O músico revela que com Stanley o papo de gravar vem de longa data, mas por conta dos compromissos de um e outro, somado à pandemia, não rolava. “Ele estava pra lançar, a música estava quase fechada, aí eu botei um pandeirinho lá e o arranjo de flauta pra intro, fiz uns improvisos pelo meio, ficou bem da hora”, diz.


Com Guile Santos foi na mesma toada. Se você ouvir R.U.G.A.S vai observar que as músicas não tem a mesma linearidade dos discos iniciais de Stanley, ou de outras produções de músicos que estão iniciando. Tem rap, trap, samba, rap jazz, e outras sequências incomuns, seguindo uma tendência do rap nacional, que só evolui nas batidas, sem perder as origens. É o que se vê em Racismo Reverso, em que Guile cria a música acústica, um desejo do rapper, usando violão, teclado com timbre de piano e bateria programada, mas com os timbres de bateria.


A letra foi escrita por Quiara e Stanley e Guile fez os encaixes e a produção em seu estúdio, o Snake Groove. A música é uma das mais intensas do disco, com um discurso sobre questões de gênero, racismo, machismo, estupro e abandono. Guile destaca a iniciativa de Stanley de dar espaço para as artistas mulheres. “Nesse lance da música tem muito machismo, nós temos atitudes machistas e temos que pegar esse exemplo do Stanley e começar a chamar as gurias pra produzir som com a gente e dominar este espaço também”, ressalta o músico.



Desconstrução

Stanley chama de desconstrução essa atitude de trazer artistas femininas para um universo onde o machismo ainda tem assento. Diversidade é o discurso presente no disco. Para a rapaziada do rap é bom lembrar que este estilo ainda marginalizado só chegou ao mainstream pelas mãos de uma mulher negra, a norte-americana Sylvia Robinson. Até o surgimento dela, o hip hop era considerado um estilo musical de rua, que não deveria ser gravado, mas consumido ali mesmo. Foi ela quem juntou o trio The Sugarhill Gang, formado por um pizzaiolo, um aprendiz de barbeiro e um estudante, criadores do rap Rappers Delight. Assim surgiu a Sugar Hill Records e a música lançada em setembro de 1979 estourou nas paradas. Não sem muitas polêmicas.


O novo álbum está disponível no canal do Youtube e nas plataformas digitais do Stanley.

Da Assessoria

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