Projeto cultural utiliza teatro e literatura como apoio à recuperação na comunidade terapêutica Rainha da Paz
- culturacaopg

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Nas colinas rurais de Catanduvas, em Carambeí, a rotina de uma comunidade terapêutica tem sido transformada pela presença da arte. A Comunidade Rainha da Paz, que acolhe pessoas em tratamento para dependência química, passou a integrar atividades artísticas por meio do projeto Cultura Viva Rainha da Paz, iniciativa que reúne oficinas gratuitas de teatro, literatura e artes visuais, além de apresentações teatrais abertas a acolhidos, familiares e moradores da região.
A ação foi viabilizada por meio de recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Ministério da Cultura, e aprovada pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. A produção é da ABC Projetos Culturais em parceria com o Grupo Dia de Arte.
A coordenadora do projeto, Denise Dias Rodrigues, destaca que o impacto das atividades artísticas tem ultrapassado a dimensão estética, tornando-se instrumento de cura emocional e reconstrução de vínculos. “Quando trabalhamos com teatro, muita gente percebe que a vida também é uma arte, cheia de sentidos e possibilidades. O teatro abre espaço para que eles coloquem para fora sentimentos, medos e lembranças. Ele também ajuda a conversar mais, a se aproximar dos outros, a se perceber como alguém que importa. A arte traz calma, esperança e faz brotar uma vontade nova de continuar vivendo e construindo a própria história”, enfatiza.
Segundo Denise, a presença do projeto nas áreas rurais representa também acesso cultural a uma população historicamente afastada desse tipo de iniciativa. “Aqui, na zona rural, quase não chegavam ações culturais e muitos sonhavam com isso há anos. Ver o teatro chegando até aqui significou abertura, respeito e um olhar de cuidado para quem mora na comunidade e para quem está acolhido. A arte fez a gente respirar um pouco melhor”, relata.
Ela acrescenta que o reflexo das oficinas é visível no comportamento dos acolhidos, que relatam sentir menos rejeição. “O que a gente vê é que o teatro trouxe um ânimo novo, deu força, motivou muita gente que antes estava desanimada. Eles mesmos contam que, depois das oficinas e das peças, começaram a perceber que têm valor, que não estão esquecidos, que fazem parte de algo importante. A arte deu um significado para a vida deles. Eu vi alegria nascer de novo”, reforça.
Arte que provoca reflexão
No último domingo (16), uma apresentação teatral reuniu acolhidos, familiares e membros da comunidade local. A peça escolhida foi Querem acabar comigo, escrita e interpretada por David Dias, diretor do Grupo Dia de Arte. O espetáculo traz à cena um artista negro e promove reflexões sobre racismo, violência sistêmica e identidade.
Para David, o tema ganha ainda mais importância dentro de uma instituição que acolhe pessoas em situação de vulnerabilidade. “Depois da apresentação, um dos acolhidos, um homem negro, contou o quanto foi forte para ele assistir à peça. Ele falou sobre como a discriminação contra usuários de drogas negros é muito mais pesada do que contra usuários brancos. E isso é uma realidade que não dá para ignorar”, afirma.
O artista ressalta que o preconceito racial também atinge as pessoas que chegam fragilizadas às instituições de apoio. “Por isso, discutir racismo aqui dentro não é só importante, é urgente! É dar nome às coisas. É permitir que eles se vejam, se reconheçam, entendam que há um sistema que age diferente sobre cada corpo. É criar espaço para que essas dores sejam faladas e compreendidas. A arte ajuda a abrir essas feridas com cuidado, e depois costura com reflexão, afeto e consciência”, salienta.
Expansão educativa
Além das oficinas oferecidas aos acolhidos, o Cultura Viva Rainha da Paz também estendeu atividades a duas escolas da região, Escola Limpo Grande e Escola Darlene de Jesus , levando conteúdos sobre história do teatro a crianças e adolescentes. As ações buscam promover o contato precoce com a arte, incentivando sensibilidade cultural desde a infância.
O projeto prevê ainda apresentações gratuitas do Grupo Dia de Arte em eventos comunitários, que incluem programação artística para adultos e atividades recreativas para crianças, como contação de histórias e brincadeiras.
Com informações: Assessoria







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