Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Poeta cego"
Dia desses, estava fazendo o percurso entre duas cidades aqui da minha região. Junto comigo ia um colega cego. Totalmente desprovido de visão. Mas, apaixonado pelos Campos Gerais do Paraná assim como eu – Que apreciava toda a beleza daquela “visão”.
De um dado momento em diante, meu amigo começou a relatar partes daquela linda paisagem.
Descrevia com particularidades a imponência daqueles campos, de suas grotas, vales, serras e morros, pelos quais apaixonado morrerei, e, escrevendo, descrevê-los não saberei.
Relatava as belas fazendas à beira das estradas. Me fazia vir a mente vaquinhas, arvoredos, galinhas, pássaros e toda aquela bicharada.
Seus relatos tinham algo poético, me fazendo viajar junto com suas lembranças. Além da viagem que fazíamos, essa era mais uma “viagem”. Uma poética e nostálgica “viagem”!
Guardo na lembrança e imagino que me será inesquecível a forma como aquele cego descreveu a árvore símbolo do Paraná. Indescritível! A araucária mais frondosa ele me fez “visualizar”.
Lembrança do tempo em que o mesmo ainda conseguia enxergar.
As imagens que relatava hoje não mais existem, estão praticamente todas modificadas. Ficaram as lembranças. Mas a poesia de seus relatos me fazia vislumbrar a época de minha infância.
Então passei a visualizar as paisagens dos tempos de outrora. Graças ao amigo cego – Um cego poeta.
E assim, nesse “processo”, percebi que havia um poeta cegado em mim. Que existe um poeta cego em cada um de nós. Que viaja junto com a gente por aí, e nós, às vezes, é que deixamos de o alimentar, de liberar essas memórias, de “reviver” saudosamente nossas histórias.
E assim, para finalizar, gostaria de um convite deixar: Libertemos o poeta que existe dentro de cada um de nós – Não o ceguemos.
Texto de autoria de Antonio Marques de Castro, Agente Administrativo da Prefeitura de Telêmaco Borba, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Comments