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MON vira referência em acolhimento de autistas

Museu Oscar Niemeyer criou uma sala de acomodação sensorial em junho deste ano para atender o público autista

Museu Oscar Niemeyer sai na vanguarda e cria sala de acomodação sensorial para autistas. Foto: Roberto Dziura Jr


Um espaço calmo, com luz reduzida, pouco barulho e mobiliário planejado. Essa é a sala de acomodação sensorial criada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON) em junho deste ano para atender o público autista. É um dos principais projetos de inclusão pela cultura do museu, que pertence ao Governo do Paraná, acabou de completar 20 anos e é o maior da América Latina.


A sala é um espaço para que pessoas autistas ou neurodivergentes possam se autorregular em caso de necessidade. Ela é importante porque o museu é um espaço de estímulos e a sala foi pensada para que estas pessoas tenham um local onde possam permanecer por um tempo. Ela está localizada em frente à Sala 01, no 1° andar do edifício principal.


Além desse espaço exclusivo, os visitantes autistas também recebem, já na entrada, um cordão de girassóis, que é o símbolo internacional que identifica pessoas com deficiências não visíveis. Eles ainda têm acesso a abafadores de ouvido. Tanto o cordão como os abafadores ficam como recordações para serem utilizados em outros lugares.


O MON ainda oferece aos seus visitantes autistas ou neurodivergentes materiais para auxiliar no planejamento da visita: a Narrativa Visual mostra, por meio de imagens e textos curtos, o que se pode esperar, e o Mapa Sensorial indica quais são os estímulos sensoriais mais comuns.


A história por trás desse trabalho é tema da série “Paraná, o Brasil que dá certo”. Com essa sala, o MON atende uma das suas principais diretrizes, que é o programa de democratização da arte a todos os públicos, inclusive aqueles que sofrem com barreiras invisíveis. Fazem parte desse grande circuito, ainda, empréstimo de cadeiras de rodas, atendimento prioritário a pessoas com deficiência, legendas em braile, audiodescrição do percurso e das obras e empréstimo gratuito de audioguias.


Juliana Vosnika, diretora do museu, explica que o foco da instituição é atender os diferentes públicos da melhor forma possível. “Criamos, há algum tempo, o programa MON Para Todos, que desenvolve projetos para receber diversos públicos. Foi criado também o Núcleo de Acesso e Participação, que é responsável por pensar programas para eles, e o último implantado foi para autistas. Dessa maneira conseguimos reservar nesse espaço de 17 mil metros quadrados de área para exposições um local exclusivo para aqueles que precisam”, destaca.


O Núcleo de Acesso e Participação (NAP) foi criado em 2019 e é formado por uma equipe multidisciplinar com a missão de melhorar as condições de acesso dos diferentes públicos. "Com esse projeto conseguimos mostrar que é possível promover esse atendimento com criatividade e pensando a partir do olhar de quem convive com essas pessoas. O MON está na vanguarda e tem espaço para todos", complementa.


A arquiteta Marina Pasetto Baki, que trabalha no MON, é autista e esteve à frente da consolidação do projeto. “Eu sou autista. Todo autista é muito diferente, mas existem características comuns como a necessidade de previsibilidade. E estas questões sensoriais para quem é neurotípico é difícil de entender e enxergar. Então o projeto só deu certo porque contou com a participação de pessoas autistas como eu e todas as pessoas que avaliaram o projeto, dando opinião e feedback”, afirma.


Ela também participou da construção da Narrativa Visual. Trata-se de um passo a passo que mostra, de forma detalhada, tudo o que uma pessoa pode esperar em uma visita ao MON. “O visitante sabe o que pode esperar ao chegar nesse espaço, conhece as exposições e os artistas, entende os protocolos e aquilo que o MON pretende passar às pessoas. Outra ferramenta importante é o Mapa Sensorial, no qual explicamos os estímulos mais comuns que podem ser encontrados, como ruídos, cheiros, luzes e tudo que possa soar incômodo”, completa.


Segurança

A Agência Estadual de Notícias acompanhou uma visita de um grupo de autistas ao MON em novembro, todos com menos de 18 anos. Israel França é frequentador assíduo e fala que, com a sala, a visita ficou ainda melhor. “É bom para descansar”, disse. “Aqui nada atrapalha, tudo é perfeito. As artes são bonitas e ter um lugar pra descansar é importante”.


Lorenzo Pilloneto visitou pela primeira vez a sala naquele mês e disse ter adorado. “Já tinha visitado o museu várias vezes, mas aqui é bom, o som é melhor, e não tem eco”, disse. O estudante Thales Stahlschmidt Lima também aprovou o novo espaço: “Gostei muito”.


Essa história ganha novos contornos com o apoio da sociedade civil. Elyse Matos, que é mãe de um adolescente autista, sentia na pele a experiência de falta de espaços e terapias adequadas até criar o Ico Project, um centro de desenvolvimento físico especializado em adolescentes e crianças com algum tipo de atraso no desenvolvimento como Transtorno de Espectro de Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.


Além disso, ela gerencia uma fundação sem fins lucrativos que atende autistas e familiares. No MON, encontraram espaço para estimular esses jovens. “No Brasil não tenho conhecimento de uma sala semelhante a esta do MON. A acessibilidade arquitetônica transformou a vida de deficientes visuais, mas a gente ainda não vê acessibilidade na questão sensorial em larga escala. Aqueles incômodos invisíveis que a pessoa com autismo sente. Não conheço outro museu no Brasil que tenha feito uma acessibilidade completa, no sentido de ter uma narrativa social para dar previsibilidade, ter um mapa sensorial e uma sala de acomodação para minimizar uma desregulação de uma pessoa com autismo”, afirma.


Para ela, a sala de acomodação dá alívio e segurança para os pais e, para o usuário, a certeza de ser acolhido. “Temos de pensar que o fato de ter a sala já dá um alívio, como mãe, porque, caso aconteça alguma coisa, tem lugar para recorrer, que vai ser seguro, sensorialmente mais confortável, que vai dar para baixar a ansiedade diante de uma crise”, explica.


“A sala traz momentos de tranquilidade. Se eles se percebem em um lugar com muita luz, muita agitação, podem ir até a sala e descansar um pouquinho para acalmar. Não é todo autista que vai precisar usar a sala. Muitos conseguem visitar os espaços com tranquilidade. Mas alguns precisam de um espaço de regulação e o fato de existir num museu público é muito importante”, afirma Ceres Oriana Scottini, terapeuta do projeto.

Ela está localizada em frente à Sala 01, no 1° andar do edifício principal. Foto: Roberto Dziura Jr.

Pioneirismo

De acordo com Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), não há informação de que outro museu brasileiro tenha uma sala de acomodação sensorial semelhante à do MON. Segundo a entidade federal, as instituições museuais ainda estão começando a implementar iniciativas de acolhimento às pessoas atípicas.


Outro detalhe que dificulta a acessibilidade nos museus, segundo o Iphan, é o fato de a maior parte das instituições vinculadas ao órgão estarem sediadas em edificações dos séculos XVIII, XIX e XX, construídas originalmente para outros usos, como palácios, casas de câmara e cadeia, edificações militares, edifícios de uso religioso, imóveis residenciais e escola.


Série

“Paraná, o Brasil que dá certo” é uma série de reportagens da Agência Estadual de Notícias. São apresentadas iniciativas da administração pública estadual que são referência para o Brasil em suas áreas. A primeira abordou o sistema estadual de transplante de órgãos, a segunda a companhia master de dança mais longeva do País e a terceira a cadeia de produção e distribuição de alimentos orgânicos.


Por AEN

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