As medidas são essenciais para a consumação do território da cidade como área de interesse arqueológico, obtenção da chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
A proposta de implantação do primeiro geoparque estadual, em Prudentópolis, na região Centro-Sul, avançou significativamente em abril. A prefeitura local atualizou o Plano Municipal de Cultura e definiu o plano de trabalho com estratégias a serem desenvolvidas na área nos próximos dez anos. As medidas são essenciais para a consumação do território da cidade como área de interesse arqueológico, obtenção da chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e, consequentemente, a inserção da cidade paranaense na rede global dos geoparques – a expectativa é que o reconhecimento de Prudentópolis como área de relevância geológica internacional seja oficializado em até cinco anos.
O projeto é desenvolvido pelo Instituto Água e Terra (IAT) em parceria com as secretarias de Estado da Cultura, e do Turismo; com as universidades estaduais de Ponta Grossa (UEPG) e Centro-Oeste do Paraná (Unicentro); além da Prefeitura de Prudentópolis. O IAT é vinculado à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável (Sedest).
Geólogo do IAT, Gil Francisco Piekarz explicou que, apesar do nome, o termo não se refere a um parque, mas a uma área com limites bem definidos, onde locais e paisagens de grande relevância geológica, aliadas aos outros bens naturais e culturais da região, são integrados em estratégias de desenvolvimento territorial. Além disso, destacou ele, um geoparque constitui uma atração turística internacional com cunho científico, por ser uma área de interesse arqueológico e que conta a história da formação da Terra e das transformações ao longo dos bilhões de anos. As estratégias envolvem a conservação da natureza, a educação e a promoção do desenvolvimento econômico sustentável das comunidades locais.
“Geoparque é uma área delimitada que possui um patrimônio geológico de importância internacional. São locais que contam a evolução histórica do nosso planeta e de todos os seres que aqui habitam ou que um dia habitaram”, afirmou.
É o caso de Prudentópolis que, com a confirmação do status, passaria a ter todo o território de 2.237 km² classificado como geoparque, uma combinação de diversos geossítios. A cidade tem em seus limites troncos de árvores petrificadas da Era Paleozóica, todas com mais de 250 milhões de anos, chamados de “lenhos fósseis”. Possui ainda rochas sedimentares que retratam mares antigos; rochas magmáticas da época de formação do Oceano Atlântico; afloramentos de antigos desertos que hoje formam o Aquífero Guarani; além de paisagens, cultura e religiosidade que refletem a ocupação atual do território.
Conta também com cachoeiras e cânions, a Escarpa da Serra da Esperança, cavernas e paleotocas. Além disso, concentra expressiva cultura ucraniana, religiosidade, museus, prováveis casas indígenas da tribo caingangue, um significativo patrimônio arqueológico e os faxinais, entre outros bens naturais e imateriais.
“Há muito potencial para que Prudentópolis seja reconhecida pela Unesco, justamente pelo fato de o município reunir patrimônio geológico relevante, uma sociedade residente e ativa, e uma cultura grandiosa vinda dos imigrantes ucranianos, integrando religião, música, artesanato e gastronomia”, disse. “Além do valor histórico, sediar um Geoparque pode representar para o município desenvolvimento sustentável, com ganhos ambientais, sociais e econômicos”, acrescentou Piekarz.
Trabalho Integrado
Já foram promovidas duas oficinas na região como forma de integrar a população ao projeto. Uma delas no geossítio Pinheiro de Pedra, foi exclusiva para moradores da localidade. A outra, no geossítio Salto São João, especificamente para guias de turismo. Estão em andamento ainda os inventários patrimoniais, ações de conservação, de divulgação e educação, com folhetos, cartilhas e painéis educativos.
Para Piekarz, essas são etapas fundamentais do projeto. A perspectiva, segundo ele, é que em dois ou três anos o Geoparque Prudentópolis esteja em pleno funcionamento, sendo integrado à rede nacional. Esse é o último passo para ser aceito na cadeia global e, por fim, ganhar a chancela internacional da Unesco.
“Com esse reconhecimento, a proteção do patrimônio, a preservação da cultura e a valorização das comunidades ficam garantidos. A população local passa a ter mais oportunidades de renda e melhores condições de vida no ambiente onde residem, mas de maneira sustentável”, afirmou a secretária de Turismo de Prudentópolis, Cristiane Guimarães Boiko Rossetim.
No Brasil e no Mundo
Atualmente são 177 Geoparques Mundiais com o selo da Unesco em 46 países. Desses, três ficam no Brasil: Geopark Araripe, no Ceará; Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte; e o Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul, no Rio Grande do Sul. De acordo com a Unesco, o objetivo da ação é empoderar comunidades locais a fomentar parcerias com objetivo comum de promover o patrimônio, a cultura, a história de modo sustentável.
Esse processo requer compromissos firmes por parte das comunidades locais; fortes e múltiplas parcerias locais com apoio público e político de longo prazo; além do desenvolvimento de uma estratégia abrangente que atinja todos os objetivos das comunidades, enquanto mostra e protege o patrimônio geológico da área.
A ideia da criação de geoparques nasceu em 1997, em um congresso de geologia em Pequim, na China. Em 2000 foi criada a rede europeia com quatro geoparques (França, Espanha, Alemanha e Grécia, um em cada país). Em 2004 foi instituída, na sede da Unesco, em Paris, a rede global, envolvendo 17 geoparques europeus e oito chineses.
Em novembro de 2015, durante a 38ª conferência geral da organização, os 195 estados-membros da Unesco ratificaram a criação de uma nova categoria para a conservação e proteção: Geoparques Mundiais da Unesco.
Por AEN
Comments