Uma dessas peças, “A Caravana dos Pássaros Errantes”, do Grupo Nômade, de São José dos Campos (SP), recebeu um prêmio especial do Festival, pela extensa pesquisa realizada
Na rua, o 50º Fenata alcançou o mundo. De 09 a 13 de novembro, seis peças escolhidas pela curadoria do Festival Nacional de Teatro, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foram encenadas em praças e espaços públicos de Ponta Grossa. De crianças a adultos, o público pôde se encantar com o teatro ao ar livre. Uma dessas peças, “A Caravana dos Pássaros Errantes”, do Grupo Nômade, de São José dos Campos (SP), recebeu um prêmio especial do Festival, pela extensa pesquisa realizada.
Na quarta-feira (09), “A Caravana dos Pássaros Errantes” encheu de música a Praça Barão do Rio Branco. Debaixo de uma frondosa árvore, o grupo encenou a trajetória de uma caravana cigana, seus amores, filhos, cotidiano e pensamentos, até que se desentende com um poderoso comerciante e é dizimada por policiais. A história é baseada em fatos reais, acontecidos na cidade de Esperantina, Pernambuco, em 11 de novembro de 1913.
Entremeando canções ciganas de todo o mundo em uma história repleta de humor, drama e beleza, o espetáculo encheu de lágrimas os olhos do público e do som de risos, o ar da praça.
“Tô num festivalzão rocheda aqui”, brinca Pedro Milhomens, do grupo Cirkombi, que veio pela primeira vez ao Fenata justamente na edição cinquentenária. O pernambucano cruzou o país, de Afogados da Ingazeira (PE) até Ponta Grossa, para apresentar a peça “Caminhos”. Foram 22 horas de viagem: de ônibus do sertão pernambucano até a capital, de avião até Curitiba, e de novo de ônibus para o destino final, que foi a praça da Biblioteca Municipal de Ponta Grossa em uma manhã ensolarada. “Falaram que no Paraná era frio, mas não achei, não”, riu.
Na programação do Fenata, o espetáculo estava previsto para a Praça Marechal Floriano Peixoto, em frente à Catedral e à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex) da UEPG. As manifestações que tomam o espaço da praça fizeram com que fosse necessário mudar de local, mas Pedro continuou com a mesma alegria que é marca registrada do seu trabalho como palhaço. “Tô felizão de estar aqui”, garante. A peça é especial, para ele, porque é uma autobiografia: conta a história de um cozinheiro que virou palhaço. Durante a peça, uma cozinha portátil torna possível mostrar a receita de sua avó ao vivo, assando um bolo de banana e o distribuindo ao público.
O palhaço Sequinho, nome artístico de Pedro, trabalha com teatro e circo há 11 anos. Todos seus espetáculos são de rua, embora adaptáveis para qualquer espaço. “A rua me deu liberdade. O que a gente gosta é a rua, o olho no olho, o contato humano”, enfatiza. “É muito gostoso sair de casa e voltar a brincar com o público, voltar para a nossa normalidade”.
“Olho no olho” teve bastante na peça “O Ovo da Cuca”, do Grupo Desembargadores do Furgão, de São Paulo (SP). Uma caixa de madeira repleta de olhos serve de palco, cenário e figurino da peça, cuja concepção e atuação fica a cargo de Ana Pessoa. Usando máscaras, a peça sugere reflexões sobre liberdade. “É muito importante poder circular com o teatro e chegar em pessoas que a gente talvez não chegaria, se não fossem os festivais”, diz Ana. O espetáculo aconteceu na sexta-feira (11), em frente ao Sesc – Estação Saudade e ao evento PG Memória.
No espaço com maior movimento de pedestres do Centro de Ponta Grossa, o Calçadão da Rua Coronel Cláudio, um grupo grande de pessoas se reuniu para assistir a dois palhaços que saltam, rodopiam, fazem malabares e estripulias para divertir o público. Adriano Gouvella e Lucas Turino, da Cia Os Palhaços de Rua, de Londrina, trouxeram ao 50º Fenata o espetáculo “Números”, retomando a primeira peça da Companhia. “Voltar ao Fenata é sempre muito gratificante, porque o público para para assistir”, comemora Adriano. Em 2019, eles também estiveram na programação de rua do Fenata, com a peça “Vikings e o Reino Saqueado”.
“Para um espetáculo de rua, o público é o principal. O espetáculo só acontece a partir da troca com os espectadores”, comenta Lucas. “O público do Fenata é muito receptivo e caloroso, eles devolvem o que a gente manda”. E o público, neste sábado (12), estava disposto a participar da peça com sorrisos, risadas e muito carinho. Mesmo depois de interrompida a peça para a passagem de um camburão de polícia, os espectadores mantiveram o interesse e a participação.
“Fazer um festival de teatro é um ato de resistência”. Para Adriano, fazer parte do 50º Fenata evoca o quanto é difícil trabalhar com cultura e o quão importante é o espaço dos festivais. “Por tantos anos que o Fenata resiste a tantas idas e vindas, é gratificante estar aqui fazendo parte”.
A peça mais polêmica do Fenata deste ano: “Hi, Breasil!”, do Grupo Olho Rasteiro, de Curitiba, poderia ter recebido esse prêmio, caso ele existisse. Um grito contra discursos autoritários, a peça-manifesto-samba-enredo ocupou na tarde de sábado (12) um espaço de lazer movimentado aos fins de semana, o Lago de Olarias. Sentado na grama, o público acompanhou a história de cinco amigos: um professor, uma mãe, uma atriz, uma jovem e um peixe. É uma peça complexa, repleta de significações e poéticas. No momento destinado à história da Mãe, fazendo alusão às cicatrizes e partes do corpo que compõem cada um de nós, os atores ficavam com roupas da cor da pele de cada um, com tarjas pretas que representavam a censura. Nas redes sociais, rodou rapidamente uma foto e um vídeo feitos à distância, alegando que os atores haviam ficado nus.
“O espetáculo não contém linguagem imprópria, o espetáculo não contém violência. Sendo assim, a classificação é livre”, explicou o ator Paulo Chierentini, depois da repercussão. Quem assistiu à peça saiu com boas críticas. “A peça foi maravilhosa e necessária! É incrível e traz muito orgulho ver a arte em todos os espaços da cidade”, declarou Larissa Clausen. Em 2019, seu ano de estreia, o espetáculo recebeu o prêmio especial do Troféu Gralha Azul, a mais importante premiação de teatro do Paraná.
Uma peça da Mostra Campos Gerais, “Entre o Sol e a Lua”, do grupo ponta-grossense “Dia de Arte”, também foi encenada no Lago de Olarias, no domingo (13). Por conta da chuva, a apresentação foi dentro do Centro de Educação Ambiental. O espetáculo, que também participou da Mostra Paralela online do Fenata em 2021, é voltado para o público infantil. A pequena Elena, com 2 anos, aguardava ansiosamente o dia de rever a peça, que já assistiu e gostou muito. Olhos atentos, grudados em cada movimento dos atores; o sorriso encantado com os momentos que reconhecia. A mãe, Daniela Farize, conta que a família toda foi assistir à peça, depois de aprender a cantar a música, que Elena adora.
Apresentar para crianças tão pequenas o teatro tem bons resultados, segundo a mãe. “Eu tento criar ela de uma forma lúdica. Ela se interessou muito pelo teatro e quero manter ela cada dia mais interessada por cultura e por arte”. Quem sabe vem uma pequena artista por aí? “O incentivo para isso ela vai ter”, sorri a mãe.
Da Assessoria
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