Longa adapta estilo e conceitos do clássico de 1987, mas não atinge o nível do original
Depois de três décadas e meia e cinco filmes medianos para baixo, o clássico de ação e horror 'O Predador' (1987) enfim recebe uma sequência à altura. 'O Predador: A Caçada', dirigido por Dan Trachtenberg (Rua Cloverfield 10), traz muitas das cenas mais vívidas e polidas da franquia sem abrir mão de sanguinolência. Com Amber Midthunder (Legion) como protagonista, o filme se apoia em uma figura magnética e de uma visceralidade notável, enquanto injeta em sua trama um teor de comentário social que transcende o cinema de gênero. De quebra, há um visível cuidado com o equilíbrio saudável da nostalgia. Só é uma pena que tudo isso, conduzido com perfeição da metade para o final da produção, não é o bastante para salvá-lo de uma ameaça pior que qualquer caçador espacial: um começo fraco.
O desenrolar do filme
Em seu primeiro ato, 'A Caçada' é professoral e previsível. O que fez com que o clássico dos anos 1980 se tornasse icônico, ainda que derivativo do mais suntuoso 'Aliens, O Resgate' (1986), foi justamente a inteligência do diretor John McTiernan em fazer do monstro-título uma ameaça entre diversos conflitos — internos e externos aos personagens — adicionando complexidade a uma trama de ação simplista e, com isso, amplificando tensões próprias de outros gêneros que decidisse abraçar. Exclua o Predador do longa original e você ainda terá porradaria pesada e drama leve sobre tons de cinza em tempos de guerra e conflitos políticos de ordem imperialista. Convide a criatura à chacina e você terá acrescentados à mistura o horror e a ficção científica.
Da forma como foi estruturado, A Caçada sequer tenta fazer algo parecido, e se admite desde os primeiros minutos dependente da promessa de conflito entre a jovem Naru e a criatura alienígena que mata por esporte, agora no Oeste americano dos anos 1700. Criada para ser uma cuidadora da tribo Comanche, Naru quer se provar enquanto caçadora por meio de um ritual que propõe a inversão de papéis com um predador. Logo, a junção dos conflitos do filme se apresenta à protagonista como solução conjunta: matar o Predador a provará perante seus pares e também poupará seus familiares e amigos da morte certa.
A sensação é que Trachtenberg e o roteirista Patrick Aison viram nessa sinergia uma simplicidade atraente, mas a realidade é que ela faz de tudo aquilo que antecede os conflitos diretos com o Predador uma exposição desinteressante. Até que Naru e o bicho engajem em um confronto direto, resta apenas enfatizar um dramalhão cansado entre ela e o irmão (Dakota Beavers) e apresentar ao espectador mais escolado na franquia a lista de sementes que darão frutos no terceiro ato: os aprendizados que viabilizarão à heroína em desvantagem bélica a vitória tática contra o ameaçador alienígena — e que servem ao filme seu principal lastro da nostalgia pelo que fez Arnold Schwarzenegger, há 35 anos.
Que esse início questionável não descambe em um desenrolar protocolar de ação pelo restante do filme é tanto uma dádiva quanto uma maldição: primeiro, porque no final das contas permite que A Caçada seja um ótimo filme em termos gerais, com a direção segura de Tratchenberg, o carisma de Midthunder e a coreografia dos ataques do Predador enchendo os olhos a cada cena; segundo, porque só torna mais visível o quão melhor o filme seria com uma introdução mais dinâmica e envolvente. Grande sinalizador disso é o conflito de Naru com um grupo de caçadores franceses — provavelmente a versão mais digerível de homens brancos pensados para serem mortos por uma heroína indígena em Hollywood. Apenas referenciados no ato inicial, eles tornam-se elemento relevante lá para a metade do filme, adicionando tensão e dinamismo à trama. Ao mesmo tempo, entretanto, eles representam mais um conflito que se amarra aos demais como tendo uma mesma solução. É uma polidez narrativa que prejudica a tensão geral, dando a todo o projeto um incômodo ar de segurança.
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