Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Histórias que nossas ruas contam"
Nem só de grandes e belas avenidas vivem as cidades. Visconde de Mauá, Ernesto Vilela, Monteiro Lobato, Souza Naves, Carlos Cavalcanti, Vicente Machado e Balduíno Taques são exceções. Há centenas de outras: longas, curtas, largas, estreitas, pavimentadas com asfalto, paralelepípedo ou só de terra. Ruas que sobem e descem, como a vida com os seus altos e baixos. Porém, enquanto para muitos a vida só tem baixos, em Ponta Grossa parece que as ruas só sobem.
Em algumas o sol nasce, em outras ele se põe. Umas se perdem de vista, outras tantas acabam logo ali. Quase retas ou sinuosas, movimentadas no centro ou vazias na periferia. Aqui, bem iluminadas, árvores, belas construções e cheias de vida. Não longe, esburacadas, esquecidas, feias e tristes.
Artérias vitalizadas por automóveis, ônibus ou repletas de gente. Testemunham muitas festas, do Carnaval ao futebol, passando pelos desfiles cívico-militares, abertura da Münchenfest, demonstrações de fé no Corpus Christi e protestos políticos. Há bares, restaurantes, o agito do comércio. E o uivo urgente e angustiado das sirenes das ambulâncias, dos bombeiros e da polícia.
Damos tanto valor às ruas que nos apropriamos delas. Nem sempre orgulhosamente. Mas é a minha, não importa suas qualidades ou defeitos. Lá na “minha rua” tem ou deixa de ter tal coisa. Todas têm dono. A rua da Fulana está linda com aqueles ipês amarelos. A rua do meu cunhado está abandonada, só buraco.
Ruas de encontros e desencontros, coincidências e acasos brincando de destino. Ruas que tanto ocultam como revelam muitas histórias. Dos que por elas transitam ou nelas vivem. E também de si mesmas. A começar pelas placas identificadoras. Em cada uma delas, um personagem, um lugar, uma referência da natureza. Políticos, pioneiros, professores, militares, cidadãos destacados. Gente que a maioria nunca ouviu falar sobre os seus feitos. Mas estão lá para nos dar a direção, designar endereços, apontar moradias e instituições.
Ruas, muitas delas em que se nascia e também se morria. Agora isso ficou no passado, pois se nasce nas maternidades e se morre nos hospitais. Se bem que ainda são palco das tragédias do trânsito e da violência perpetrada pela insanidade humana.
Pelas ruas, deixamos pegadas das nossas dores e o pó de sonhos mortos. Marcas de passadas firmes da juventude e de maratonistas, atropeladas um dia por passos trôpegos, cansados pelos muitos quilômetros percorridos na existência. Única rua que vimos o início, porém, desconhecemos onde termina.
Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica e jornalista aposentado, residente em Curitiba, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais
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