Durante a exposição também será lançado um e-book, apresentando narrativas da Comunidade
De 04 a 20 de julho o saguão do auditório B do Cine Teatro Ópera recebe a exposição Vila Nova - Novos Olhares, produzida pela ABC Projetos Culturais. São 20 fotografias que mostram a Vila Nova a partir do olhar dos seus moradores. Durante a exposição será lançado também um e-book, com textos de autoria dos moradores, falando sobre a realidade, angústias, anseios e perspectivas da comunidade.
A exposição e o e-book são resultados do projeto Vila Nova - Novos Olhares, aprovado pelo PROMIFIC (Programa Municipal Incentivo Fiscal à Cultura) que contou com o apoio das empresas Belgotex do Brasil, Grupo Mercadomóveis, Prestes Construtora e do casal Antônio Cesar Bochenek e Giorgia Bin Bochenek.
Situada em área nobre de Ponta Grossa/Paraná, entre o Centro e o tradicional bairro da Vila Estrela, a Vila Nova começou a ser ocupada há cerca de 50 anos, num espaço urbano marcado por falhas geológicas e solo acidentado, com uma vertente à margem esquerda do Arroio do Padre, afluente do Arroio da Ronda.
“Com uma realidade pouco assistida, a Vila Nova quase sempre é retratada e conhecida por seus quadros de violência. Porém, a comunidade também tem seus sonhos, lutas e dilemas comunitários que precisam ser compartilhados. Esse foi o propósito do projeto que iniciamos lá há cerca de dois anos”, revela Alessandra Bucholdz, diretora da ABC Projetos Culturais e coordenadora do projeto Novos Olhares. Ela ressalta que o olhar preconceituoso sobre a Vila Nova faz com que crianças e adolescentes nascidos lá continuem carregando os estigmas que muitas vezes marcaram a vida dos seus pais, num ciclo que precisa ser rompido.
O projeto oportunizou 15 oficinas de fotografia e 15 oficinas de escrita criativa a moradores da Vila Nova. A execução durou cerca de dois anos, precisando ser interrompida em vários momentos por conta da pandemia. Apesar disso, foi possível reunir múltiplos olhares sobre a Vila, vindos tanto de adolescentes, como de mulheres que estão lá desde que a Vila começou a ser habitada.
As oficinas de fotografia, além de trabalhar a técnica foram um convite para os participantes explorarem mais a comunidade onde moram. “Ver nos olhos dos alunos o sentimento de pertencimento em cada canto da Vila que era fotografado e explorado foi incrível. Cada foto feita trazia para perto um amigo, um parente, um personagem que cada participante considera importante para a Vila. E assim de foto em foto fomos descobrindo lugares e pessoas”, conta o fotojornalista responsável pelas oficinas, Maykon Lammerhirt.
Através dos textos produzidos nas oficinas de escrita criativa e das narrativas de mulheres da Vila Nova foram produzidos um e-book e um fanzine, que circulará na comunidade. “Essas histórias tão silenciadas e ignoradas pela desigualdade socioespacial agora vão ganhar visibilidade”, comemora o geógrafo e professor responsável pelas oficinas, Carlos Fabrício Avrechaki. “É necessário lembrar que as narrativas das periferias produzem personagens, contextos e tramas importantes de serem retratados”, complementa.
A assistente social Maria Czekalski, que atuou na mobilização da comunidade para participação nas oficinas destaca que o projeto trabalhou com vidas esquecidas e anônimas, que só são evidenciadas pelos crimes nas páginas policiais. “E os cidadãos, a comunidade, a luta pelo pão de cada dia? E as mulheres solitárias e invisíveis na dor e na luta pelos entes queridos frente à falta de oportunidades, à discriminação, com seu grito abafado pela exclusão do poder público e pela nossa indiferença?”, questiona. Segundo Maria, “o projeto ‘Novos Olhares’ é um olhar para o ser humano, para sua história de vida, para sua beleza de ser e estar”.
A produtora executiva do projeto, Rafaela Prestes Remeika relata que “Novos Olhares é um daqueles projetos que dá orgulho de produzir, porque envolve três pilares essenciais para o desenvolvimento cultural em sociedade: a educação, através das oficinas formativas; a arte, através das noções de estética e a reflexão, através das provocações sobre as temáticas abordadas”. Segundo ela, com esses três pilares, as ações auxiliaram na ressignificação do cotidiano da Vila.
Uma das preocupações do projeto foi também envolver a comunidade na equipe técnica. Maria da Luz, que mora há 47 anos na Vila Nova, atuou como monitora, dando assistência ao projeto em todas as suas etapas. São dela também relatos presentes no e-book e no fanzine. O projeto ainda contou com o apoio do Instituto de Educação César Prieto Martinez que cedeu espaço para realização das aulas teóricas, tendo em vista que a Vila Nova não dispõe de nenhum espaço comunitário.
Da Assessoria
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